Janela hipotética

“Eu fechei a janela? Devo ter fechado. Eu sempre fecho. Não vou lá agora, sair do carro, fechar o carro, entrar em casa, só pra ver uma porcaria de janela. É muito trabalho. O foda é que agora eu vou ficar a tarde inteira com a dúvida se eu fechei a janela ou não. Bosta!

“Se eu quiser confirmar isso, tenho que virar aqui agora. Vou virar… Não. Foda-se. Agora vou ficando cada vez mais longe e não vou mesmo voltar só pra ver isso. Não vai chover hoje também. O tempo tá bonito. Se bem que ontem também estava e choveu. Ah, mas mesmo se chover não vai ter problema: o que eu tenho perto da janela que não pode molhar? Talvez a televisão. Não, mas tem que chover com uma ventania muito forte para a água atingir a televisão. Não tem perigo. Se chover, só vai inundar o chão. E minha mesinha. Mas também não tem nada em cima da mesinha.

“O meu livro! Será que eu deixei ele em cima da mesinha? Não, eu acho que peguei ele quando fui pro banheiro… ou isso foi antes? Bom, se chover e molhar o livro, eu coloco ele pra secar. Já aconteceu isso antes mesmo. O livro não é nem problema. Isso contando com a hipótese de eu ter deixado a janela aberta. E chover. E entrar água em casa. E eu ter deixado o livro em cima da mesa. É remoto demais. Não vou ficar pensando nisso agora.

“Daqui a pouco eu me distraio com outra coisa e nem lembro mais da janela. Aí quando eu voltar eu verifico se fechei ou não. O segredo é só não pensar no assunto. Olha! Peitos! Belos peitos. Belo decote. Não vou nem passar nesse amarelo só pra ficar olhando pros seus seios, moça. … Peitos … … … Voluptuosos Peitos … … … … … … Pronto, abriu o semáforo. Foi o melhor farol vermelho do mundo.

“Tá vendo? Até esqueci do assunto da janela. Devo ter fechado sim. Eu desliguei a TV, fechei a janela, fechei a cortina, peguei a chave e fui embora. Fiz isso, né? Eu fechei a cortina? Se eu fechei a cortina, fechei a janela. Eu não seria tão estúpido de fechar a cortina e deixar a janela aberta. Só falta eu vou chegar em casa e encontrar a janela aberta e a cortina toda molhada… Pelo menos não vai molhar o livro. Isso se eu deixei o livro em cima da mesa. Mas eu não…

“Uh! Uma vaga! Que sorte! Se esse corno tivesse estacionado um pouco mais pra frente, facilitaria a vida de todo mundo. Pronto… Ficou meio torto o carro? Foda-se, tá lindo.

“Certo… Vamos lá que vou ter o dia cheio. Vou esquecer a janela agora. Não vou me preocupar com problemas que eu não posso resolver. Já esqueci. Não estou nem pensando nisso mais. Pronto, viu?

“…

“Será que eu tranquei o carro? Tranquei? Vou voltar lá pra ver… Não, já estou longe agora. Mas devo ter trancado… Será?…”

Groar!