Do problema de usar a Primeira Guerra como cenário para histórias heróicas…

Por algum motivo magnífico, a Primeira Guerra Mundial assumiu uma posição de maior destaque na cultura pop recente. Em meio ao seu aniversário de 100 anos, ela está mais presente por aí, como nos recém lançamentos Battlefield 1 ou no filme da Mulher Maravilha.

Gal Gadot Maravilha

É uma grande mudança em relação às últimas décadas, aonde a Segunda Grande Guerra era o cenário favorito. Pense nas maiores produções pop dos últimos tempos: os games de fps que começaram com Medal of Honor e Call of Duty, os Battlefields que começaram em 1942 – games cuja evolução foi trazer aos tempos atuais, pulando a Guerra do Vietnã e colocando em um cenário moderno. Os filmes e séries mais populares também são nela ambientados, como o Resgate do Soldado Ryan, Band of Brothers, e até os mais recentes Inglorious Bastards e Dunkirk.

As razões para esse favoritismo de priorizar a Segunda Guerra são um tanto quanto óbvias: inicialmente temos o tamanho do conflito. Nenhuma guerra jamais atingiu proporções tão globais e gigantescas como ela. Em todos os sentidos: países envolvidos, tempo de conflito, número de mortes… (ver: http://www.fallen.io/ww2/). Assim, pelo tamanho e tempo que levou, há uma infinidade incrível de histórias a serem contadas.

Mas um outro motivo ainda mais forte para histórias da Segunda Guerra serem tão populares: ela é uma guerra fácil de ser entendida. Os inimigos e as motivações são bem claros. Não importa sua nacionalidade, sua posição política, sua religião, sua cor… os inimigos da Segunda Guerra jamais podem ser outros do que os nazistas. Os heróis são bem claros e é um maniqueísmo delicioso para se contar uma história. Nem mesmo alemães são capazes de torcer contra o Capitão América quando ele sai matando nazistas.

Além do vale da estranheza

Em 1937, quando iniciou as produções de Branca de Neve e os Sete Anões, Walter Elias Disney (Waltinho pros íntimos) teve que tomar uma decisão importante: quão realista deviam ser os personagens e as animações. Até então as animações eram focadas em animais (não à toa, a maioria dos personagens de desenho da época eram criaturas como o rato Mickey, o pato Donald, o gato Félix…) ou em humanos extremamente caricaturizados.

Primeiros rabiscos da personagem de Branca de Neve, extremamente inspirado em Betty Boop (via: The Mirror)

Tinha-se a idéia que tornar os personagens muito próximos da realidade ia causar desconforto aos telespectadores, além de todas as dificuldades envolvidas na criação de desenhos o mais realistas possíveis. Walt Disney, porém, insistiu em tentar manter os personagens principais mais realistas e os anões mais caricaturizados. Mais do que isso, Walt insistiu que a sonorização do filme fosse o mais próximo da realidade possível, sem os “tóins”, “vulps”, “pums”, “zaa-ih-ohye-pá” e outras onomatopéias tão comuns à animações da época.

Desenhos animados fortemente baseados na realidade não incomodam basicamente porque todos percebemos que são desenhos. As linhas e cores e expressões são facilmente distingüíveis e nosso cérebro é esperto o bastante [citation needed] pra diferenciar aquelas mal traçadas linhas de uma vizinha espanhola, mesmo quando ela usa o que você julga um excesso de maquiagem.

Com o avanço da animação digital, porém, a história mudou. Os primeiros filmes completamente feitos por computador evitavam ao máximo o uso de figuras humanas tanto quanto um político evita dar entrevistas para o CQC. Por isso os primeiros filmes da Pixar envolvem majoritariamente brinquedos, insetos, monstros e carros. A limitação porém era puramente tecnológica: os computadores e renders da época eram limitados e a animação humana não era boa, trazendo para os anos 90 o equivalente computacional a mostrar só as pernas da tia do Tom e Jerry.

…da freqüência de publicação e cinco blogs recomendados

TL;DR:
Escrever dá trabalho pra caralho e eu não ganho dinheiro nenhum aqui, então é por isso que as publicações estão ficando tão escassas. Porém acredito que eu tenho trabalhado melhor na qualidade dos textos, a despeito de sua inconstância. Mas para quem quiser seguir este blog e o nRT, agora dá pra assinar nossa newsletter.

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Por uma boa época, eu acreditava que o segredo do sucesso na internet era a constância na publicação de uma mídia. Blogs e sites que tinham conteúdo novo surgindo duas vezes por semana ou mais, pontualmente em determinados horários deveriam se sobressair àqueles inconstantes e que passavam meses sem atualização. Não valeria a pena voltar a um blog com freqüência se ele raramente apresentava conteúdo novo.

O Holocausto africano (ou “Ensaio sobre o Perdão”)

Um homem passeia com seus bodes na Ruanda de hoje
Um homem passeia com seus bodes na Ruanda de hoje

O genocídio que aconteceu em Ruanda no recentíssimo ano de 1994 foi sem dúvida uma das maiores tragédias da humanidade e é a prova definitiva de como foi catastrófica a colonização belga no continente africano. Até hoje, 20 anos depois, não se tem uma idéia precisa do número de mortos, mas a estimativa é entre 500 mil e 1 milhão de vítimas, sendo que o valor mais usado pelos livros é de 800 mil. É um número assustador, podendo ser comparado com o holocausto que ocorreu durante a Segunda Guerra, porém com alguns agravantes: Hitler precisou de seis anos para matar 6 milhões de judeus, o que dá uma média mensal de 83 mil mortes por mês, com o uso de eficientes máquinas de assassinato em massa, como câmaras de gás; o massacre de Ruanda foi três vezes mais rápido e feito à base de armas brutais e rudimentares, como machadinhas e facões.

Por que rolamos atrás do queijo?

eu (destacado), no começo da corrida atrás do queijo rolante
eu (destacado), no começo da corrida atrás do queijo rolante

É uma tarde de segunda-feira nublada de maio em Cooper’s Hill, Gloucestershire, um condado no sudoeste da Inglaterra. Quase quatro quilos de queijo quicam alegremente na grama, morro abaixo. Uma horda de corpos humanos caem atrás dele, como bonecos de pano, deixando ombros deslocados, pernas quebradas e costelas trincadas. As pessoas só conseguem parar de rolar realmente no final da ladeira, aonde um grupo de jogadores de rugby voluntários seguram os competidores e começam a cuidar dos ferimentos mais graves. Aquele que chegar primeiro é o grande vencedor e tem para si o queijo da vitória.

A Cheese-Rolling Race, ou Corrida do Queijo, é um evento anual e histórico. A tradição é centenária e ninguém sabe dizer ao certo quando começou. Acredita-se que o evento era parte das celebrações pelo início da Primavera. Relatos sugerem que rolar coisas de um barranco era um hábito pagão e que pessoas correm atrás de queijos pelo menos desde o século XV.

De 1941 a 1954, devido ao racionamento de comida por conta da Segunda Guerra Mundial, os organizadores tiveram que construir um queijo de madeira com um pequeno pedaço de queijo de verdade dentro – a única permissão concedida na época pelo Ministério da Comida para a corrida. Quando queijo de verdade pôde finalmente voltar a ser usado, um queijo especial de 18 quilos foi especialmente produzido para o evento.

A tradição continuou ano após ano, sendo organizado por voluntários da região e voltado para os próprios moradores das redondezas. Até 2009, quando mais de 15000 pessoas compareceram para o evento. Questões de saúde e segurança passaram a preocupar as autoridades locais que decidiram cancelar oficialmente o evento de 2010.

Livros para colorir para adultos

De tempos em tempos, uma nova moda velha aparece, algo que sempre esteve por aí, espalhado, no fundo de um brechó ou exposto claramente em vitrines pela cidade, mas que o mundo sempre preferiu ignorar ou não viu o potencial naquilo.

A moda da vez são os livros para colorir para adultos. Eu não julgo; honestamente, acho até bem divertido. Quem sou eu para julgar, afinal, estando no comando de um personagem de quadrinhos fracassado, eu tô sempre desenhando e colorindo por aí…

O que me irrita é a falta de percepção desses editores em conhecer seu público alvo.

Por que diabos os livros de colorir para adultos não seguem uma temática adulta? Por que são flores, castelos, jardins, borboletas, essas coisas infantis que, convenhamos, são piegas e todos nós já passamos da época? Por que não imbuir atividades lúdicas condizentes com a idade e vida miserável que nós, pobres adultos levamos no nosso dia a dia? Que tal permitir aos adultos colocar um pouco mais de cor na cracolândia? Que tal dar uma atividade de redecorar um escritório de advocacia como se fosse regido pelo Clovis Bornay?

Mais Cersei, Menos Charlotte

hodor

WILLIAM

O príncipe andava de um lado para o outro, inquieto. O fogo crepitava na ampla sala de música de Buckingham, apesar da primavera já presentear a capital do Império Britânico com temperaturas mais quentes e agradáveis. Os três homens na sala estavam em um silêncio tão pesado que era possível ouvir os bêbados de Leicester cantando do lado de fora do palácio. O piso madeirado rangia em determinado ponto, mas era um barulho menos irritante do que as botas reais do príncipe martelando continuamente ao andar pelo longo cômodo. No centro da sala, um tapete persa vermelho e azul abafava seus passos. Vermelho e azul também era a vestimenta do príncipe, de veludo indiano, lhe caindo perfeitamente sobre o peito ferido das batalhas da década passada.

– Acalme-se, William – disse Charles, sentado calmamente numa das poltronas do outro lado da sala, ao lado do piano, bebericando uma pequena taça de brandy.

– Eu estou calmo, pai! – respondeu William, claramente irritado.

O duque de York estava sentado ao lado de Charles. Ele se levantou e serviu duas taças de brandy, deixando uma na mesa e levando outra até o nervoso príncipe:

– Tome um brandy, vai lhe fazer bem – ofereceu Andrew.

– Não quero beber nada! – disse o príncipe, atirando a taça do outro lado da sala.

Pequeno dicionário do manifestante moderno – versão gourmet

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Em julho de 2013, num arroubo de cidadania e amor à pátria, este humilde blog fez um serviço a toda a população brasileira e ofereceu, sem custos adicionais, um útil dicionário ao manifestante moderno.

Quase dois anos depois, visando colaborar com essa nova onda de protestos que está sendo orquestrada pela Rede Globo (eu li isso num blog esquerdista – ver parte 1 deste dicionário), nós oferecemos um complemento para que você, meu caro alienado político, possa ser massa de manobra bem informada.

Todo tempo que a falta de tempo tem

dog_exercise

Reza o dito popular que, quando você tiver algo muito importante para ser feito, deve pedir à pessoa mais ocupada: ela encontrará a forma mais fácil e rápida de fazê-lo. A sabedoria contida no provérbio é inexorável; a dificuldade moderna, porém, é encontrar no meio de seu rol de contatos o que for o mais ocupado.

“Estou sem tempo para nada” é a desculpa do século, válida mais para si mesmo do que para outrem. Afinal, perde-se tanto tempo trabalhando, transitando, comendo e assistindo a novela das oito que ninguém mais têm tempo para ir à academia, tocar oboé ou aprender francês.

O assassino da caneta

“E eu fui até a cozinha chorando e Neil disse para mim: ‘O que diabos você tem?’ e eu disse: ‘Bem, eu acabei de matar a pessoa.’”

 A confissão acima caberia muito bem em qualquer julgamento de um assassino frio e calculista. Seria muito apropriada em algum drama que escancara as manchetes dos jornais populares. Alguém mais incauto argumentaria sobre uma legítima defesa, mas a autora da frase agiu por vontade própria contra alguém que não a ameaçava de forma alguma. Ela não se importa, já que poderá ter ao seu lado os melhores advogados, uma vez que estamos falando de uma das mulheres mais ricas do mundo.

A assassina em questão é J.K. Rowling e o defunto referido é Albus Dumbledore, um inocente professor que nunca foi capaz de fazer mal a uma mosca. Nessa entrevista, JK ainda confessou que o crime foi meticulosamente premeditado e que aquilo a chateou profundamente, mas em momento nenhum ela se mostra arrependida.

Quem nunca?
Quem nunca?